Adenil Borges, Dedé, coordenador da Pastoral da Juventude, enviou ao padre Dilton Maria Pinto, a pedido da Pastoral da comunicação, as questões a seguir. Padre Dilton, em março deste ano, viaja para Moçambique, onde viverá durante três anos, servindo a Igreja no continente africano. Gentilmente, o presbítero contou, via e-mail, quais são as suas expectativas e esperanças neste novo momento da sua vida e ministério ordenado.
1 - Padre Dilton, qual a sua definição para Missão e Ser Missionário?
R.: A meu ver para definir a Palavra Missão, pela força que esta Palavra possui, talvez fosse melhor escrever um livro para defini-la. Mas busco essa definição em alguns autores apaixonados pela Missão como o Padre Luiz Moscone. Em seu Livro: “A Vida é Missão”, para uma missiologia mística popular, assim ele o escreve: “Missão é relação. Tira-nos do isolamento, do individualismo, de qualquer tipo de fechamento... Missão é uma grande graça, é dom e, ao mesmo tempo, tarefa. É uma bênção...” Eu acrescentaria: Missão é partir, é desinstalar-se, é olhar para além do nosso umbigo. E Ser Missionário é colocar-se atentamente à escuta da Palavra de Deus, na obediência ao Evangelho de Jesus Cristo e, como Maria, carregar esse Cristo tornando-O conhecido e amado não apenas com palavras, mas, sobretudo, com o Testemunho, estabelecendo um diálogo fraterno com todos, sem impor nada. Ser Missionário é estar despojado dos nossos pré-conceitos, da nossa arrogância e sempre pronto a acolher as novidades e não apenas querer ou achar que só o missionário tem algo a oferecer
2 - Sabemos das inúmeras realidades e necessidades do povo em todos os países, inclusive em nossa pátria. Por que o senhor decidiu realizar um serviço missionário na África?
R.: Esta talvez seja a pergunta que mais tem chegado a mim nestes últimos tempos. O senhor não acha que a nossa Diocese também é terra de Missão? Ou ainda, por que ir para tão longe se o povo da nossa paróquia precisa tanto do senhor? Por que não ir para a Amazônia ou para o Nordeste onde carecem tanto de Missionários? Bom, eu respondo: Missão é partir, desinstalar é olhar para além da janela de nossa casa, olhar além do muro ou da cerca de nossos quintais, é olhar além das divisas de nosso município, do nosso Estado, além das fronteiras de nosso país. Vejo que nós nos orgulhamos em dizer que somos o maior país católico do mundo, que o povo brasileiro é um povo de fé... Por que não nos orgulharmos com homens e mulheres que obedecendo ao IDE de Jesus, em Mateus 28,19-20, se colocam a caminho para anunciar e levar Jesus àqueles que não tiveram ainda a alegria de ter alguém ali junto deles para anunciar o Cristo? A carência de Missionários na África, continente muito pobre e de guerras constantes, onde aquele povo sofre todo tipo de atrocidade, onde não é respeitado em sua dignidade humana, aí algumas das razões que me fazem partir, sem medo pois sei que a Missão não é minha mas de Deus.
3 - Padre, vai para terras africanas contribuir com um serviço missionário junto àquele povo que necessita muito da presença e ajuda humanitária da Igreja. Como se iniciou essa nova etapa em sua vida? Foi um convite, uma necessidade da Igreja ou uma decisão própria?
R.: Uma decisão própria. Como os Discípulos de Emaús, cada vez que eu leio as Sagradas Escrituras os inúmeros envios que o próprio Deus fazia no Antigo Testamento, a Moisés, Jeremias, Jonas... E, no Novo Testamento, conforme já citei acima Mateus 28,19-20, quando Jesus diz: “Portanto, vão e façam com que todos os povos se tornem meus discípulos, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que ordenei a vocês. Eis que eu estarei com vocês todos os dias, até o fim do mundo”. Sinto o meu coração arder. Daí a minha resposta ao Chamado e ao Envio para a Missão Ad Gentes.
4 - Já tem informação de como será o exercício de seu ministério junto aos africanos? Alguma pastoral em específico? E por quê?
R.: Não especificamente. O Bispo da Diocese de Lichinga para a qual estou indo, em Moçambique, Dom Elio Greselin, informou-me que devo cuidar de uma Paróquia numa cidade chamada Entre Lagos. A princípio devo ficar sozinho cuidando de aproximadamente 60 comunidades. Mas me informaram também o carinho que o povo moçambicano tem para com o Missionário que chega àquelas terras.
5 - O que espera encontrar naquele continente? Quais são as expectativas e anseios nessa jornada que será vivenciada?
R.: Na realidade, estou pedindo apenas ao Espírito Santo que me anteceda nesta Missão. Como disse, estou indo despojado de tudo, apenas com o desejo de viver o Evangelho de Jesus junto àquele povo.
6 - Nossa Diocese nos últimos anos vem fortalecendo o serviço missionário. Esse serviço pastoral está focado e tem encontrado disposição e ânimo junto à juventude diocesana nas parcerias entre o Comise (Conselho Misssionário dos Seminaristas), a Juventude Missionária e a Pastoral da Juventude, na realização das Semanas Missionárias. Que mensagem deixaria aos nossos jovens missionários?
R.: Agradeço a Deus por ter me concedido a graça de criar em nossa Diocese o Comise (Conselho Missionário dos Seminaristas) e Juventude Missionária e ver que os frutos estão aparecendo. Quero dizer aos nossos seminaristas e aos nossos jovens que não percam a coragem de anunciar Jesus. Para mim, no dia que a Igreja perder a mística da Missão ela deixa de ser a Igreja de Jesus Cristo.
7 - Padre Dilton, deixe uma mensagem aos fiéis de nossa Diocese.
R.: Gostaria de deixar não uma mensagem minha, mas uma mensagem do Papa Francisco, em sua Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, número 121.
Certamente todos somos chamados a crescer como evangelizadores. Devemos procurar simultaneamente uma melhor formação, um aprofundamento do nosso amor e um testemunho mais claro do Evangelho. Neste sentido, todos devemos deixar que os outros nos evangelizem constantemente; isto não significa que devemos renunciar à missão evangelizadora, mas encontrar o modo de comunicar Jesus que corresponda à situação em que vivemos. Seja como for, todos somos chamados a dar aos outros o testemunho explícito do amor salvífico do Senhor, que, sem olhar às nossas imperfeições, nos oferece a sua proximidade, a sua Palavra, a sua força, e dá sentido à nossa vida. O teu coração sabe que a vida não é a mesma coisa sem Ele; pois bem, aquilo que descobriste, o que te ajuda a viver e te dá esperança, isso é o que deves comunicar aos outros. A nossa imperfeição não deve ser desculpa; pelo contrário, a missão é um estímulo constante para não nos acomodarmos na mediocridade, mas continuarmos a crescer. O testemunho de fé, que todo o cristão é chamado a oferecer, implica dizer como São Paulo: “Não que já o tenha alcançado ou já seja perfeito; mas corro para ver se o alcanço, (…) lançando-me para o que vem à frente” (Fl 3, 12-13).
Para concluir termino com um pensamento do saudoso Dom Helder Câmara: “Missão é sempre partir, mas não é devorar quilômetros. É, sobretudo, abrir-se aos outros como irmãos, descobri-los e encontrá-los. E, se para encontrá-los e amá-los é preciso atravessar os mares e voar lá nos céus, então Missão é partir até os confins do mundo”.
Padre Dilton Maria Pinto
Rio Vermelho/ MG
FONTE: http://diocesedeguanhaes.com.br